O Garrano, pequeno e robusto cavalo que se distribui
pelo Minho e Trás-os-Montes, é uma raça autóctone criada
nos baldios serranos de forma bravia, que mantém
comportamentos defensivos ancestrais.
A
mais antiga referência ao cavalo em Portugal encontra-se nas
pinturas e gravações pré-históricas que datam de 13 000 a 17
000 anos AC, no Alentejo. Estas pinturas referem-se ao
verdadeiro Cavalo-ibérico de pescoço arqueado, ao contrário
das pinturas da caverna de Lascaux, em França, que mostram
um cavalo do tipo do pónei.
Os cavalos ibéricos eram conhecidos pela tribo dos
Cinetes (que ocuparam o Algarve) como os “Filhos do
Vento”, que vinham com os ventos do Oeste do “Rio Oceanus”.
Estes cavalos terão dado origem às raças Lusitana e Sorraia.
O
Garrano (que significa “Cavalo Pequeno”) é uma raça do
Equus caballus L., também nativa da Península Ibérica,
que com cerca 1,30 m de estatura apresenta diversas
semelhanças com os póneis. Ter-se-á desenvolvido nas
montanhas da Península, do Atlântico até aos Pirinéus,
tendo-se diferenciado como raça no período do Paleolítico.
Existem pinturas no Norte da Península deste período que
retratam um cavalo idêntico ao Garrano de hoje. Descende
directamente do Pónei Celta primitivo, mas hoje em dia tem
linhas sanguíneas de melhoramento oriundas do Cavalo Árabe.
O Garrano, propriamente dito, é a mais antiga raça por entre
as raças irmãs do Norte da Península Ibérica, nomeadamente o
Cavalo do Monte da Galiza, o Asturcón das Astúrias ou o
Potrok Basco.
O
Garrano foi utilizado como animal de transporte pelo
exército português e continua a ser utilizado para carregar
madeira e no desempenho de tarefas agrícolas, mas também é
utilizado para montar, tendo sido o meio de locomoção ideal
nas veredas do alto Portugal. Chegou mesmo a ser utilizado
para carregar minérios das minas mais recônditas das serras
do Norte durante a II Guerra Mundial. Hoje em dia participa
ainda no turismo equestre.
Na Peneda-Gerês, esta raça pode ainda ser vista em
liberdade, após uma medida tomada pelo sub-secretário de
Estado da Agricultura, em 1943, que levou à constituição de
um grupo de 21 Garranos para a preservação da raça em
liberdade. Hoje podem ser observados os descendentes do
grupo libertado no Vale do Homem.
Estes Garranos do Gerês não podem ser capturados, mas nos
baldios serranos onde as populações locais continuam a
libertar indivíduos, eles são capturados, geralmente, de
dois em dois anos.
Actualmente distribuem-se pelo Minho e também por
Trás-os-Montes. É uma raça muito apreciada pela sua
resistência e chega a constituir grandes manadas nos
baldios, onde são apascentados.
No
período do cio as fêmeas acompanham permanentemente o
garanhão, que mantém a coesão do grupo. Na época de combates
os machos enfrentam-se pela posse do harém, lutando a coice
e à dentada. Os potros são depois acompanhados e cuidados
pelas fêmeas.
Um
dos piores inimigos dos Garranos é o Lobo-ibérico, levando,
normalmente, os cavalos a adoptarem um sistema defensivo em
círculo com as crias no interior, repudiando os ataques dos
lobos a coice. Muitas vezes os lobos atacam quando as fêmeas
estão a parir, altura em que se encontram bastante
indefesas, tal como acontece quando atacam outras espécies,
e a cria pode ser predada ainda antes de acabar de nascer.
Os Garranos particulares na altura de serem capturados
utilizam um sistema de defesas idêntico ao utilizado contra
os lobos. Quando capturados após o cerco são retiradas crias
das manadas para serem vendidos na feira anual. Muitos
destes potros vendidos são abatidos para alimentação, pois a
carne de Garrano é considerada um petisco, e os restantes
são marcados pela Associação de Produtores de Garranos e
devolvidos à liberdade.